Os filhos e o casamento...para reflectir (a minha versão)

Novembro, 2007
Se me permitem, e porque me está a apetecer partilhar... Aqui fica um pouco da nossa história:
Começamos a namorar em Fevereiro de 1997, e uns 2 ou 3 meses depois, num jantar com amigos dele, dos tempos de faculdade, fazem aquele jogo da "agulha" para ver quantos filhos cada um vai ter, e se serão meninos ou meninas... bom, a mim e a ele dava um resultado suis géneris... o 1º filho não era um menino nem uma menina... dava assim uma mistura, a agulha tanto rodava, como andava para trás e para a frente... e acontecia quando faziam o jogo a cada um de nós... claro que era risota geral - ninguém entendia o que significava aquilo... o meu marido, namorado na altura, lembra-se da "brilhante" justificação de que aquilo significava que iríamos ter gémeos... eu não liguei nenhuma, porque este tipo de jogos não me diz absolutamente nada... o que é certo é que ele ficou sempre com aquela de que iríamos ter gémeos...
Em Fevereiro de 1999 começamos a viver juntos e em Julho do mesmo ano, casámos... que rica vida... só os 2 no nosso cantinho... eu chegava a casa super-cedo, arrumava o que havia para arrumar, tratava das roupas, adiantava o jantar e ainda tinha tempo de ficar na “sornice” até ele chegar... à noite íamos tomar o nosso cafézinho... muitas vezes íamos ao cinema... jantares fora, etc.,etc.,etc. E, ao longo destes tempos, sempre que se falava em filhos, na brincadeira, o Pedro ía dizendo que nós íamos ter logo 2, porque seriam gémeos... toda a gente se ria... incluindo eu...
Até que, em 2003... começam os planos de realmente "encomendar" um/a filhote/a... e o meu marido volta à carga com a conversa de que iriam ser 2 de uma vez... aí comecei a ficar preocupada... pedia-lhe que por favor deixasse de brincar com isso, porque estava a criar falsas esperanças...nem eu nem ele tinhamos gémeos na família (à execepção de uma prima do meu pai que teve gémeas verdadeiras, o que julgo não ser hereditário), e eu temia não "corresponder" às expectativas dele... ele dizia sempre "O.K.... Não te pressiono mais, mas não precisas de ficar preocupada porque vamos ter gémeos de qualquer das formas"... Nem sabem como eu ficava irritada com isto, na altura... e ficava mesmo preocupada, com medo de ele se estar a convencer a ele próprio de que iria ser pai de gémeos e depois ficar desgostoso com uma gravidez "normal", de um único bebé...
Bom, a verdade é que engravidei em Agosto de 2003, que eu saiba de um só bebé... e já tinha madrinha escolhida... seria a minha irmã (promessa feita entre nós já há vários anos)... mas a gravidez não correu bem, e em Outubro acabei por perder o bebé... Passando à frente, a parte do desgosto, etc... continuemos a história...
No dia 7 de Abril de 2004 fui fazer um teste de gravidez à farmácia... resultado positivo! Marco consulta para essa mesma tarde na obstetra... ainda na sala de espera... eu e o meu marido conversávamos sobre o/a bebé... a conversa chega à madrinha, e eu digo-lhe que iria falar com a minha irmã, porque gostava que a irmã dele também fosse madrinha... e por mim, poderiam ficar as 2 como madrinhas deste primeiro bebé, ao que ele me responde :«Nem precisas de te preocupar com isso, porque vão ser dois, e fica a tua irmã madrinha de 1 e a minha irmã madrinha de outro!»... Eu nem queria acreditar... outra vez aquela conversa?!?!... Bom, entramos para a consulta e quando a médica me está a fazer a ecografia... vira-se para o "pai" e diz: «Olhe para ali, Pedro... Quantos vê?». Bom... o resto vocês já sabem... eu estava grávida de gémeos!... E a teoria do meu marido, vá-se lá saber porquê, estava certa!... Resta só referir que, descobri depois de já estar grávida, a minha bisavó era gémea de um rapaz...
Ora bem... pela história se pode perceber que nenhum dos 2 foi assim apanhado "completamente" de surpresa por ir ter gémeos... ele, porque estava já convencido disso há 7 anos, e apenas teve a confirmação do seu desejo... e eu porque durante 7 anos ouvi-o a ele falar disso com a maior das naturalidades e senti-me abençoada por ser capaz de realizar o desejo dele, especialmente depois do tanto que sofri com a 1ª gravidez mal sucedida....
Por aqui se pode ver que o meu marido, desde o início (mesmo quando ainda apenas existia o desejo de um dia virmos a ser pais), foi um pai "comprometido", envolvido, participativo... Claro que isto não quer dizer nada... alguns envolvem-se na ideia, mas quando ela tem que ser vivida na realidade, não conseguem actuar em conformidade...
Felizmente, não foi o nosso caso. O pai participou muito, desde logo durante a gravidez e o nascimento... ajudou, e ajuda, muito... claro que tem que ser "comandado" por mim... por iniciativa própria é mais difícil fazer certas coisas, mas também tem a ver com o meu feitio... sou muito "picuinhas"... as coisas, para estarem bem feitas, têm que ser feitas à minha maneira... e perfeitas, só quando feitas por mim... não é defeito, é feitio! Mas também tem que ver com o feitio dele... deixa as coisas "rolarem"... tudo se há-de resolver... alguém há-de arrumar, alguém há-de preparar tudo... (Quem será esse "alguém"?!)... Claro que, depois, às vezes sinto-me a rebentar... prestes a explodir... sinto que recai tudo sobre mim, que eu tenho que decidir sobre tudo, tenho que tomar o comando de tudo... e às vezes, apetece deixar de liderar... e aí, começam os problemas, porque se a mãe não está cá para essa liderança, o barco quase que afunda!... E se não afunda, o capitão anda muito mal-humorado...;). Felizmente isso só acontece muito raramente, quando tenho algum trabalho para fazer e não posso mesmo “comandar as tropas”!... De resto, isto parece acontecer em todos os aspectos da minha vida, e praticamente desde que me lembro de ser gente... será que sou eu que tenho a mania que tenho que controlar tudo?!... Aqui fica o mote para reflectir...
Bom... claro que a nossa vida mudou... mudou muuuuuito! Muito mais do que eu estaria à espera, e talvez também mais do que o pai estaria à espera... talvez pensássemos que agora iríamos viver com 2 filhas, mas afinal passámos a viver para 2 filhas... acabaram-se os jantares românticos, acabaram-se as idas ao cinema, acabaram-se os cafézinhos à noite, acabaram-se os passeios de mão dada um com o outro... agora é de mão dada a cada uma delas (e não só no sentido literal, mas em todos os sentidos possíveis e imagináveis)!... Acabou-se tudo isto, porque ainda não consigo deixar as minhas filhas ao cuidado de ninguém, a não ser com o pai... se ele precisar de sair, se tiver um jantar com amigos, seja o que for, eu fico com elas, e se for eu a ter que sair, se tiver um jantar com amigas, seja o que for, só vou se ele ficar com elas! Por ele, já as teríamos deixado com os avós algumas vezes para sairmos os 2... para namorarmos, para irmos comprar isto ou aquilo... mas eu não consigo... mais uma vez, não é defeito, é feitio!... Não me sinto descansada deixando-as com mais ninguém... deixo-as no infantário, mas eu estou lá... se ficar em casa doente, não quero que ele as leve para a escola... ficam comigo em casa... embora não descanse, embora precisasse de ficar sozinha, não consigo!... Sinto que as estaria a abandonar... sinto que não seria tão boa mãe se o fizesse... quero-as para mim! Quero que sejam minhas filhas, e quero sentir-me comprometida com elas toda a minha vida... não sei se dá para perceber o que quero dizer... acho que, no fundo, quero viver para elas! E o meu marido, embora possa não ser tão "controlador" e "galinha" como eu, compreende o meu sentir e vivencia comigo a minha forma de viver a parentalidade. Porque conhece a minha história, porque me conhece cá dentro... Para mim, isto é companheirismo... para mim, isto é amor...
Se sentimos falta de momentos a sós?... Claro que sim... claro que sentimos saudades dos tempos em que vivíamos apenas um com o outro... mas a vida mudou... em muitos aspectos, para melhor! Não podemos ter tudo, para já, mas temos outras coisas... temos dois raios de sol que inundam a nossa casa todos os dias... que nos relembram diariamente algumas das razões de estarmos juntos, que nos lembram que estão cá porque nos amamos muito... eu penso assim e suspeito que o meu marido terá opinião parecida... não me parece que ele se sinta ou tenha sentido excluído... como disse, ele sempre participou na parentalidade, e embora não sinta necessidade de a viver tão "intensamente" como eu, aceitou muito bem a minha forma de lidar com tudo... de tal forma que ainda pensa em ter mais filhos... mais gémeos, diz ele... e eu, que já estou "vacinada", já aprendi a lição... tenho que acreditar... podem mesmo voltar a ser 2!!! Ufa!...

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